quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Perguntas Frequentes Sobre Vedanta

Perguntas freqüentes sobre Vedanta

Swami Krishnapriyananda Saraswati

Gita Ashrama
2000-2012



Sri Adi Sankaracharya




1. O que é Advaita Vedanta?
2. Quem foi o fundador do Advaita?
3. Quais são os princípios fundamentais do Advaita?
4. Qual o relacionamento entre o Advaita e o Budismo? O Advaita é meramente uma cópia do Budismo?
5. Por que o Advaita é algumas vezes referenciado como Mayavada?
6. Não é o Advaita falsificado pela experiência diária?
7.  Qual é o conceito das escrituras, de acordo com o Advaita?
8. De que forma a adoração do Advaitins difere-se da adoração das outras escolas do Vedanta?


1. O que é Advaita Vedanta?
Literalmente a palavra sânscrita “advaita” significa “não-segundo”, geralmente lido como "não-dual". "Advaita" é, também, o nome de uma antiga escola de Vedanta. A base do Advaita está em si mesma sob os Upanishads, os Brahma-Sutras, e o Bhagavad-gita. A filosofia Advaita afirma que o verdadeiro ou real, a identidade essencial do Jiva a alma individual ou o ser individual não é nada mais do que Brahman em si mesmo. Os ensinamentos do Advaita seguem os enunciados ou estamentos dos Upanishads, conhecidos como Mahavakyas, como: Tat Tvam Asi, e Aham Brahmasmi. Na sua doutrina cardinal ou principal o Advaita difere de todas as outras escolas do Vedanta. O princípio principal do Advaita Vedanta está detalhado na obra de Sri Adi Shankaracharya, o famoso filósofo que viveu entre os sétimo e o oitavo século.

2. Quem foi o fundador do Advaita Vedanta?
Não há um fundador único do Advaita Vedanta. Uma vez que as raízes do Vedanta estão nos Upanishads, os quais são partes dos Vedas eternos, a tradição Advaita não possui um fundador propriamente dito. Por conseguinte, Shankaracharya é venerado como sendo o mais importante instrutor do Advaita Vedanta, uma vez que Ele escreveu a maioria dos ensinamentos sobre o Vedanta que nós hoje conhecemos. Ele, também, escreveu muitos comentários que servem de base dos textos das Escrituras. Shankar trouxe vivo a tradição do Advaita, colocando-a num patamar firme. Antes da época de Shankaracharya, a tradição era passada pela tradição da instrução oral. Mesmo nos dias de hoje, o caminho tradicional de aprendizado do Advaita Vedanta é o sentar-se aos pés de um Guru ou preceptor ou mestre espiritual. A mera leitura de textos será insuficiente para o progresso espiritual. Por isso é muito importante observar o Guruparampara ou sucessão discipular. Assim como muitas outras ordens monásticas possuem esta sucessão discipular o Advaita Vedanta também segue esta mesma tradição.

3. Quais são os princípios fundamentais do Advaita?
A identidade essencial do Atman e do Brahman é o mais importante princípio do Advaita Vedanta. O Brahman é o substratum (a base fundamental), no qual todos os fenômenos são experienciados, e também o Antaryamin, o Senhor Uno, que reside em todos os seres. O íntimo Atman, o real Ser, é o mesmo que o Antaryamim, que é idêntico ao Brahman.
A liberação ou Moksha consiste na realização desta identidade, não apenas numa forma de aprendizado intelectual de entendimento, mas como algo que é para ser seguro pelo indivíduo em sua experiência pessoal. As práticas de Yoga auxiliam o desenvolvimento em direção a realização, porque elas auxiliam ao buscador na prática do controle dos sentidos, e no direcionamento do Antakharana: os órgãos internos, a mente, o intelecto, a consciência e Autoconsciência internas. A prática do Ashtanga-yoga, ou yoga de oito partes ensinado por Patañjali, é recomendada pelo buscador, pelos mestres do Advaita. O buscador deverá estar munido com qualificações como pré-requisito. Qualidades como paciência, autodomínio, habilidade em focar-se em concentração de modo intenso, e habilidade de discernir entre o Real e o irreal, ausência de paixões, e deverá ter um “desejo” de liberação. De qualquer forma, é sempre importante lembrar que Moksha não é um resultado de uma mera prática ritualística. Sendo idêntico ao Brahman, Moksha existe eternamente. As práticas ritualísticas auxiliam apenas no nível de alcançar Citta-Suddhi, e no desenvolvimento das qualidades acima mencionadas.
Advaita é um ensinamento não-dual. Quando perguntado por que a dualidade é percebida neste mundo, o Advaita possui muitas respostas para a questão. O mundo de multiplicidade pode ser explicado devido a Maya, o poder de criação exercido pelo Criador, que é, portanto, também chamado de Mayin. Do ponto de vista do indivíduo, a percepção da dualidade/multiplicidade é atribuída a Avidya ou ignorância, devido que a unidade de Brahman não é conhecida, e a multiplicidade é então vista no lugar. Isto está, por exemplo, relacionado a visão de uma serpente numa cobra. Quando a corda é conhecida, a serpente desaparece. Similarmente, com a realização de Brahman, o mundo de multiplicidades desaparece. Isso, contudo, não quer dizer que a ignorância do indivíduo cria o mundo externo. Porém, a percepção de multiplicidade no mundo, em vez do Uno Brahman, é devido a Avidya, isso é, ignorância que se têm de Brahman. Quando Avidya é removida, o indivíduo conhece seu próprio Ser ou Atman como Brahman, então não há mais mundo e nem indivíduo. Há, então, apenas o Ser ou o É. Remover Avidya é sinônimo de realização em Brahman ou Moksha.

4.  Qual o relacionamento entre o Advaita e o Budismo? É o Advaita, uma mera cópia do Budismo?
Absolutamente não. O Advaita não se trata de uma mera cópia do Budismo. Por alguns poucos séculos o Advaita foi criticado como sendo “Pracanna Bauddham”, ou Budismo disfarçado. Esta crítica surgiu e deveu-se principalmente por causa de algumas escolas Vaishnavas do Vedanta, mas é equivocada. Primeiramente, não há apenas um “budismo”, e a crítica para ser válida deverá especificar qual escola budista se está referindo. Sankaracharya despendeu muitos esforços para criticar muitas teses dos budistas nos Seus comentários. Entre os modernos acadêmicos Advaita Vedanta a maioria é comparado freqüentemente com as escolas Madhyamaka e Yogacara do Budismo. Isso foi inspirado principalmente pelo fato de que o MandukyaKarikas, escrito por Gaudapada, o Paramaguru de Sri Adi Sankaracarya, mostrava uma grande familiaridade com a escola budista da Sua época.
Todavia, se alimentarmos que o Advaita Vedanta é essencialmente o mesmo que o Budismo Madhyamaka, deve-se salientar que se trata de um mal entendido dos importantes pontos fundamentais, tanto do Advaita Vedanta como da escola budista Madhyamaka. Quanto ao Yogacara, os pontos semelhantes surgem do fato que de tanto o Advaita Vedanta como o Budismo, Yogacarya têm lugar para a prática do Yoga, como fazem outras escolas de filosofia Indiana.

5. Por que o Advaita é algumas vezes referenciado como Mayavada?
A palavra Mayavada serve para muitos propósitos. Uma vez que o Advaita confirma a identidade entre o Atman individual com o Brahman, uma dúvida surge naturalmente sobre a origem da diversidade do universo. A aparência da diversidade é atribuída a Maya. Na linguagem popular, Maya significa ilusão, e mágico ou prestidigitador é chamado de Mayavi. Dentro do Advaita, Maya possui um significado técnico como “poder criador” ou Sakti de Brahman, o qual também serve para ocultar, devido que o universo é percebido como sendo cheio de diferenças, e a unidade do Brahman não é conhecida.
Algumas escolas Vaishnavas usam a palavra “mayavada” num sentido depreciativo. Portanto, este tipo de crítica interpreta Maya apenas como ilusão, e criticam o Advaita por dar a palavra Maya, segundo eles, “nada mais do que o significado de sonho”. Tal conceito ignora e menospreza a sutileza filosófica do conceito de Maya no Advaita.

6. Não é o Advaita refutado pela experiência cotidiana diária?
De fato, o conhecimento cotidiano que alguém experimenta leva a inferir pluralidade nas coisas do dia a dia, mas de forma enfática o Advaita sustenta a posição de que a experiência transcendental do Brahmanubhva está acima da experiência diária, porque esta está baseada nos sentidos comuns. A tradição pensa que não é correto nossas próprias conclusões em assuntos de metafísica (porque estão além da ´phisis´ ou natureza material), baseadas apenas nas experiências normais do dia a dia. Todas as escolas do Vedanta confiam nas escrituras, isso é, nos Vedas, como sendo a origem válida do conhecimento. Uma vez que o Advaita Vedanta está fundamento em textos védicos como os Upanishads, ele não é refutado pela experiência cotidiana. De outro lado, o conhecimento da identidade de Brahman está além da experiência do cotidiano.

7.  Qual é o conceito das escrituras, de acordo com o Advaita?
O conceito das Escrituras , de acordo com o Advaita, é muito semelhante aos da escola Purva Mimamsa, mas com duas importantes exceções a saber:  1) Os Vedas, dispostos no Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda, e Atharva Veda são consideradas escrituras válidas, sem autor particular, e válidas eternamente. Por isso são ditos Apaurusheya (sem autoria), porque se constituem em desvelação do Senhor. Eles constituem o chamado Sruti, isso é, a desvelação que foi ouvida, escutada pelos Rishis. Um grande número de outros textos, com autoria de pessoas sábias, também são considerados, e alcançam o status das Escrituras, mas eles estão subordinados aos Vedas originais e a Sua autoridade, onde possa surgir um conflito, os Vedas decidem, por isso não há conflitos. Este conjunto de textos é chamado de Smriti, ou seja, que são lembrados ou ditos pela tradição; 2) Cada um dos Vedas possui a parte Karmakanda, que consiste em Mantrar e injunções rituais, os chamados Vidhis, e um Janakanda, que consiste nos Upanishads e nos Brahmanas; 3) A primeira exceção, por conseguinte, que o Advaita faz ao Purva Mimamsa está nas regras do Jñanakanda. Os Upanishads não são apenas Arthavada, como é afirmado pela escola Purva Mimamsa. Os Upanishads ensinam o conhecimento do Brahman, e não visa elogiar os frutos das ações rituais; 4) Uma segunda e sutil diferença entre as duas escolas está no que o Advaita Vedanta aceita que Brahman é a origem dos Vedas, do mesmo modo como o o Brahman é a origem de todo o universo inteiro. Este fato de aceitar de que a origem do Veda não é aceito pelo Purva Mimamsa, uma vez que os seus seguidores seguem o pensamento do chamado Kumarila Bhatta ou Prabhakara, que vê de forma diferente.

O Upanishads, os quais constituem o Jñanakanda dos Vedas, são, portanto, chamados de Sruti Prasthana, e formam uma das três origens do Advaita Vedanta. O mais importante Smriti Prasthana na tradição Advaita é o Bhagavad-gita, o qual é, provavelmente, o mais conhecido texto religioso indiano dos tempos modernos. O terceiro texto da coleção de Escrituras chama-se Brahma-sutras ou Vedanta Sutras, atribuído ao sábio Badarayana. Os Brahma-sutras estabelecem os princípios lógicos da interpretação ortodoxa Vedântica do Sruti e são, portanto, chamados de Nyaya Prasthana. A verdade no Advaita Vedanta está, portanto, dita e estabelecida na fundamentação tripartite no chamado Prasthana Trayi, da Escritura revelada (Sruti); pela tradição da memória (Smriti), e na tradição lógica ou Nyaya. 

8. De que forma a adoração do Advaitins difere-se da adoração das outras escolas do Vedanta?

Podemos afirmar que as diferenças são de forma marcante. A ortodoxia da tradição Advaita está proximamente aliada com a tradição Smarta, a qual segue o sistema Pancayatana Puja, onde Vishnu, Siva, Sakti, Ganapati (Ganesha), e Surya são adorados como formas de Saguna Brahman (ou Brahman com qualidades). Em algumas origens, o conceito de Pancayatana é subsituido pela noção de Shanmata, a qual acrescenta Skanda para as cinco Deidades citadas acima. A adoração é feita tanto na base diária como em ocasiões de festivais especiais. Questões do tipo de “Quem é superior?”, se Vishnu ou Siva, etc., o qual é muito comum entre muitos grupos de Hindus, não é feita pelos Advaitins, ou seguidores do Advaita Vedanta de Sri Sankara. Nas palavras de Sri Chandasekhara Bharati (1892-1954), o Jinvanmukta pleno, “você não pode ver os pés do Senhor, porque você gasta o seu tempo debatendo sobre a natureza da Sua face?”. 

om tat sat