terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Vedānta

O Vedānta

Swāmi Kṛṣṇaprīyānanda Saraswatī

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
SANATANA DHARMA BRASIL
GITA ASHRAMA

Porto Alegre, RS - Brasil

 2006-2012


Adi Śaṅkara com discípulos (Dakśinamūrtī)


O Vedānta
A palavra e o instituto do Vedānta, do Sânscrito, “finalidade”, “conclusão”, refere-se aos Vedas (verdade; conhecimento), pois trata-se de Teleologia (finalidade; ou "para-quê") dos Vedas. De fato, Vedānta é o corolário dos seis Darshanas ou visões da filosofia do Sanātana-dharma, e tem seus fundamentos nos postulados dos Upaniṣaḍs. Ele deriva-se do Mimaṁsa. Swami Sivananda escreve que,

Vedānta é a culminação ou finalidade dos Vedas. Ele penetra dentro do estudo sobre Brahman. Ele é a ciência que ergue uma pessoa do plano mundano. Ele é um método racional de meditação no Supremo Absoluto, o Eterno, o Infinito. Vedānta é a culminação da experiência humana, e da finalidade da faculdade de pensar. Ele é um grande e elevado conhecimento. Sua sabedoria foi revelada pelos antigos sábios. Os Ṛśis ou sábios de outrora fizeram grandes experimentos transcendentais alcançados em meditação, trazendo ao mundo as suas experiências espirituais. Todos eles são autorizados. Você não deve gastar muito tempo fazendo estas experiências novamente. Toda a sua vida inteira não seria suficiente para experimentar e alcançar o que os sábios nos desvelam. As experiências dos sábios são como pílulas condensadas devidamente preparadas. Você simplesmente deverá seguir estas instruções sem restrições, com perfeita e inabalável fé e devoção. Somente assim você poderá fazer qualquer progresso no caminho espiritual e alcançar a meta da vida. Para praticar qualquer Sādhana, para alcançar a liberdade absoluta, você deverá conhecer e iniciar em si mesmo os seus métodos e técnicas. Você saberá a causa do cativeiro e o método de livrar-se deste cativeiro (do Karma). Você deverá fazer uma procura sobre o estudo da vida e conhecer os seus mistérios.”

(Swami Śivānanda, Vedānta para Principiantes)

Filosofia védica
A filosofia indiana, sem dúvida alguma, ganhou um grande impulso com o Vedānta de Śaṅkara. Esta escola de filosofia praticamente influenciou todas as demais que vieram após ela, mesmo àquelas que a contestaram. Por vezes, notamos que o Vedānta aparece como uma retomada de consciência dos Vedas, principalmente após a descaracterização feita por Buddha das Escrituras, tentando, por exemplo, suspender os sacrifícios injustificáveis que ocorriam como solução para todos os “problemas do mundo físico e espiritual”, principalmente os atos praticados pelos brahmanes, que também estavam cobrando “taxas” muito elevadas para prestarem seus serviços. Aqueles, cada vez faziam mais exigências, a ponto de que nem mesmo um rei não dispor de tamanha quantidade de produtos ou riquezas para poder resolver os “problemas divinos”. De fato, podemos considerar a posição de Buddha, principalmente por ter se dedicado a bem-fazer boas ações para as pessoas menos favorecidas, uma posição rebelde contra o “brahmanismo ortodoxo”; quer dizer, na medida em que descaracterizou os textos védicos, Buddha afirmou a necessidade de uma retomada de consciência diante das exigências absurdas dos brahmanas.

Śaṅkara, redescobrindo o Vedānta
O Vedānta, por sua vez, experimenta um forte renascimento com Śaṅkarācarya, onde são feitas comparações entre o Puruṣa (Ser), a Prakriti, e como se relacionam entre si. Śaṅkara, estimulado por Seu Guru, retoma a visão kevala ou pura do Vedānta. Cerca de 1.200 anos da influência do niilismo budista fez com que a Índia caísse num patamar de ignorância e misturas variáveis. Muitos, de forma ingênua, acreditavam que haveria necessidade de alguma ação para que se pudesse alcançar mokṣa ou liberação do saṁsāra (nascimentos e mortes repetitivos). Portanto, estes recomendavam e afirmavam o pravṛtti marga ou caminho da ação como indispensável para atender as exigências das Escrituras. Porém, Śaṅkara mostra com clareza que nivṛtti marga ou caminho da não-ação é o que está sendo recomendado nas Escrituras, e que a simples repetição ritual não é o suficiente para liberação alguém mas o conhecimento e a realização do ser ou Ātma. Śaṅkara fornece um reducionismo ontológico tendo como base o conhecimento ou jñāna. Conforme Śaṅkara, sem conhecimento e realização do ātma ou Ser não é possível alcançar a liberação ou mokṣa.

 Os corpos materiais
O Vedānta clássico defende a natureza material que envolve o ātma. O primeiro dos corpos humanos é o Annamaya kosha, ou seja, corpo grosseiro, resultado material dos alimentos, que corresponde ao corpo denso, o mundo da matéria densa, e ao plano da consciência chamada de vigília; o segundo corpo ou envoltório é chamado de Prāṇamaya kośa, corpo feito de Prāṇa, a energia vital; o terceiro corpo é Manomaya kosha, ou corpo mental, bem como os sentidos; o quarto corpo é Vijñanamaya kosha, corpo do “entendimento e da compreensão”, por fim, o quinto corpo é Anandamaya kosha, ou envoltório de bem-aventurança, e que corresponde ao estágio de sono profundo. De acordo com Śaṅkarācarya, no Vivekaśudamanī, (Jóia do Discernimento) o verdadeiro Eu está encoberto por estes cinco corpos, comparando a falta do brilho d’Ele, com um poço de junco, que não deixa vermos a água. Mas a remoção deste “junco” (ignorância) torna a água clara (o Ser) e visível, acalmando o tormento da sede e concedendo a felicidade em mais elevado grau.

Escolas Vedānta
A escola Vedānta é considerada ortodoxa, porque mantém os textos e os estudos védicos originais como base, e se se subdivide em cinco grupos principais, tendo cada um deles um representante fidedigno. A primeira e original escola do Vedānta foi mantida e defendida por Śaṅkara. Ela recebe o nome de Kevaladvaita (Advaita puro). A proposta fundamental desta escola é o monismo ou não dualismo, possuindo uma identidade absoluta entre o universo e Brahman. Mas defende que qualquer que seja a afirmação sobre a Verdade Absoluta é contraditória, adotando a filosofia do neti-neti (agnóstica) “isto não é”, como sendo a via mais segura sobre a questão do Absoluto. Posterior a Śaṅkara há diversas subescolas, quase todas influenciadas pelo romantismo judaico-cristão (inclusive islâmico). Outro grupo de Vedānta é chamado de Viśiṣtādvaita, tendo como fundador Sri Rāmanuja (1017-1276 d.n.e.). Nesta escola se ensina uma espécie de monismo relativo entre o universo e o Brahman. O Terceiro grupo ó o Dvaitādvaita, tendo por fundador Nimbarka, onde se admite um sincretismo entre o monismo e o dualismo. Fundado por Madhva (1199-1276 d.n.e.), temos o quarto grupo ou Dvaita, que ensina a existência de um dualismo entre o universo e Brahman, por fim temos o quinto grupo chamado de Suddhādvaita, fundada por Vallabha, que defende um monismo chamado realista e radical.


Suprassumo dos Vedas
O importante é que o Vedānta é um sistema aberto, onde o fundo de sua doutrina repousa na unidade indissolúvel do Ser Supremo ou Brahman. O Vedānta de Śaṅkar tem como base os Mahāvakyas, ou injunções finalísticas dos Vedas, ou seja, de asserções que se encontram dentro dos Upanishads. O mais importante dos Mahāvakyas é o grande mantra Tat Tvam Asi, que quer dizer “Vós sois Ele” ou “Tu és Isto”. Porque somente o Uno existe, sendo o mundo da diversidade fruto de Māya ou poder externo e ilusório do Absoluto, que nos faz crer em múltiplas diversidades, quando na realidade há somente um único Ser ou Ātman.

Hari OM Tat Sat

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