sexta-feira, 29 de abril de 2011

Karna Yoga - Ações e Caráter

Karma Yoga
Swami Vivekananda


Tradução e notas de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(Todos os direitos reservados na forma da Lei)
Igs brasil
2011
 
1.3. Ações e caráter

Supostamente, há certas ações as quais são agregadas à soma total de um largo número de ações menores. Se nós ficarmos próximos da praia e ouvirmos as ondas que se precipitam contra a rocha, nós pensamos que tal coisa é um grande ruído, apesar de sabermos que uma onda, na realidade, é composta de milhões e milhões de pequenas ondas. Cada uma delas faz um ruído, apesar disso não o captamos; e é apenas quando eles se tornam um grande agregado que nós escutamos. Similarmente, cada pulsação do coração é uma ação. Nós sentimos certos tipos de ação e elas se tornam tangíveis para nós; elas são, ao mesmo tempo, o agregado de um número de pequenas ações. Se vocês realmente desejam julgar o caráter de um homem, não olhem para seus grandes feitos. Cada tolo talvez se torne um herói numa hora ou outra. Observe um homem nas suas ações mais comuns; de fato, aquelas coisas irão dizer-lhes o verdadeiro caráter de um grande homem. Grandes ocasiões despertam até mesmo o mais inferior dos seres humanos para algum tipo de grandiosidade, mas ele será realmente grande quando seu caráter for sempre grande; o mesmo onde quer que seja.

Karma, nos seus efeitos sobre o caráter, é o mais tremendo poder com o qual o homem pode lidar. O homem é, supostamente, um centro, e está atraindo todos os poderes do universo em direção a si próprio, e, neste centro, os está fundindo e novamente os enviando para fora, numa grande corrente. O verdadeiro homem é como um centro – o onipotente; o onisciente – e ele atrai todo o universo em sua direção. O bem e o mal, miséria e felicidade, tudo está correndo em direção a ele, e unindo-se ao seu redor; e fora de si ele molda a magnífica corrente de tendências chamada caráter, e as arremessa para fora. Assim como ele tem o poder de atrair qualquer coisa, também tem o poder de arremessar para fora.

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Karma Yoga - De onde vem o conhecimento

Karma Yoga
Swami Vivekananda


Tradução e notas de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(Todos os direitos reservados na forma da Lei)
Igs brasil
2001



1.2. De onde vem o conhecimento
Agora, mais uma vez, este "conhecimento", é inerente ao homem. Nenhum conhecimento vem de fora; todo ele está dentro. O que dizemos “um homem conhece”, deve, na estrita linguagem filosófica, ser o que ele “descobre” ou “desvela”; o que um homem “aprende” é realmente o que ele “descobre”, por retirar o que recobre sua própria alma, a qual é uma mina de conhecimento infinito.

Nós dizemos, Newton descobriu a gravidade. Estava ela localizada em algum lugar num canto esperando por ele?  Ela estava em sua própria mente; chegou o momento e ele a trouxe para fora. Todo o conhecimento que o mundo recebe vem da mente; a biblioteca infinita do universo está em sua própria mente. O mundo externo é simplesmente a sugestão, a ocasião, as quais configuram você para estudar a sua própria mente, mas o objeto de estudo é sempre sua própria mente. A queda da maçã deu a sugestão a Newton, e ele estudou a sua própria mente. Ele rearranjou todas as ligações anteriores de pensamento em sua mente e descobriu uma nova ligação entre ela, as quais nós chamados de Lei da Gravitação. Ela não está na maçã nem em alguma coisa no centro da Terra.
Isaac Newton

Todo o conhecimento, portanto, secular ou espiritual, está numa mente humana. Em muitos casos ele não é descoberto, mas permanece encoberto, e quando a cobertura é lentamente retirada, nós dizemos, “Nós estamos aprendendo!”, e o avanço do conhecimento é feito pelo avanço deste processo de descoberturamento (para variar de ‘descobrimento’, cujo sentido perdeu-se com o tempo, n.t.). O homem do qual seu véu está sendo levantado é mais conhecedor; no homem cujo véu permanece grosso é ignorante, e no homem no qual fora inteiramente retirado (o véu da ignorância) é onisciente, todo-conhecedor. Houve homens oniscientes, e, eu creio, haverá ainda; e haverá miríades deles nos ciclos que virão. Como o fogo numa pedra (de isqueiro), o conhecimento existe na mente; a sugestão é a fricção a qual o traz para fora. Então, com todos nossos sentimentos e ações – nossas lágrimas ou sorrisos, nossas alegrias e nossos sofrimentos, nosso choro ou nosso sorriso, nossas maldiçoes e nossas bênçãos, nossos enaltecimentos e nossas censuras – cada um destes nós talvez encontremos, se calmamente estudarmos nossos próprios egoísmos, trazidos para fora, de dentro de nós mesmos, por muitos golpes. O resultado é o que nós somos. Todos estes golpes tomados juntos são chamados Karma – trabalho, ação. Cada golpe mental ou físico que é dado para a alma é como se fosse golpear o fogo (na pedra de faísca), e pelo qual seu próprio poder e conhecimento são descobertos, é Karma; essa palavra sendo usada no seu largo sentido. Assim, nós estamos todos fazendo Karma o tempo todo. Eu estou falando para vocês: isso é Karma. Vocês estão escutando: isso é Karma. Nós respiramos: isso é Karma. Nós caminhamos: Karma. Tudo o que fazemos, física ou mentalmente, é Karma, e isso deixa suas marcas em nós.

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Karma Yoga - por Swami Vivekananda

Karma Yoga
Swami Vivekananda


Tradução e notas de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(Todos os direitos reservados na forma da Lei)
Igs brasil
2001



Swami Vivekananda
Nota introdutória
Este texto sobre Karma Yoga está baseado nas palestras que Swami Vivekananda deu em suas salas alugadas, na 228 W 39th Street, em dezembro de 1895, e janeiro de 1896. As aulas eram gratuitas. Geralmente, Swami dava duas aulas diárias, uma pela manhã e outra a noite. Este texto então foi organizado por um dos primeiros discípulos de Vivekananda, chamado Joseph Josiah Goodwin, constituindo-se nos excertos das anotações que aqui apresentamos.

Prolegômenos
Este presente texto de Swami Vivekananda inaugura uma série de estudos breves sobre o Vedanta, tendo em vista afastar de modo definitivo o fantasiar que vemos na internet, tanto em torno do tema como do autor em si. Já faz um bom tempo que as palestras que aqui transcrevemos foram proferidas; quase todas datadas do início do século XX. Isso quer dizer que já se passaram mais de 100 anos que foram dadas de forma gratuita para o povo da língua inglesa. Esta é a primeira tradução feita em Português de forma acadêmica, dentro do padrão universitário, e por alguém da área da Filosofia Clássica, e pertencente a quarta ordem no Brasil. Trata-se de um texto filosófico, proferido por um filósofo, e não por um alienado religioso ou místico procurando demonstrar este ou aquele 'poder'.

Swami Krsnapriyananda
Na verdade, um seguidor sério do Vedanta não declara nenhum poder, a não ser o da humildade em saber que está na busca pela Verdade, e servindo seu Guru. Aqui não há nada de místico ou sobrenatural, mas é a razão iluminando nossas ignorâncias de forma direta. Também, no Vedanta não há 'especialistas', porque se trata de uma ciência da razão, e esta é fruto do estudo, dedicação e merecimento. Karma não se forma apenas no falso dizer, mas também no agir-se falsamente. Karma é uma lei bem simples, cuja complexidade está apenas em desenvolver a humildade de primeiramente não se achar de modo algum superior a ninguém. Como nos diz Swami Vivekananda, "Você serve o outro porque você é mais inferior do que ele, não porque ele está embaixo e você está no alto (ver texto completo sobre Vedanta de Swami Vivekananda). Portanto, a humildade de servir é nosso primeiro aprendizado no Vedanta, assim, nele não há 'especialistas', mas articuladores filósofos, humildes pela sabedoria, que distribuem o conhecimento de forma gratuita (graciosa).

Os textos sobre Karma-yoga - 'yoga da ação ou trabalho' - serão colocados numa sequencia em pequenos lotes de parágrafos, para que o leitor possa ler, meditar e digeri-los. Esperamos que estudantes sérios do Vedanta possam erguer-se iluminar a Filosofia da unidade do Vedanta não-dual.

hari om tat sat.


Krsnapriyananda Swami, gita ashrama,
Porto Alegre, 
outono de 2011


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Samsara, a 'roda do karma'
 

1.1. O Karma, nos seus efeitos do caráter
A palavra Karma é derivada da raiz sânscrita ‘krit’; “fazer”; todas as ações são Karma. Tecnicamente, esta palavra também significa os efeitos das ações. Em conexão com a metafísica, ela algumas vezes significa os efeitos, dos quais nossas ações passadas foram as causas. Mas no Karma-yoga temos simplesmente a palavra Karma com o significado de ação. A meta da humanidade é conhecimento. Este é único ideal colocado diante de nós pela filosofia Oriental. O prazer não é a meta do homem, mas o conhecimento. O prazer e a felicidade chegam ao fim. É um engano supor que o prazer é a meta. A causa de todas as misérias que temos no mundo e que tolamente os homens pensam que o prazer é o ideal para se esforçarem. Após um tempo, o homem percebe que não é a felicidade, mas o conhecimento, através do qual ele está indo, e que tanto o prazer como a dor são seus grandes mestres, que ele aprende na mesma medida com o bem e o mal. O modo como o prazer e a dor passa diante de sua alma, eles os têm em diferentes imagens, e o resultado destas impressões combinadas é chamado “caráter” do homem. Se você pegar o caráter de qualquer homem, ele é mais do que um agregado de tendências; a soma total das inclinações da sua mente; você irá descobrir que a miséria e a felicidade são fatores iguais na formação do caráter. O bem e o mal têm porções iguais na moldagem do caráter, e em alguns aspectos a miséria é maior mestre do que a felicidade. Ao estudar os grandes caráteres que o mundo produziu, eu ouso dizer, na grande maioria dos casos, se encontrará que foi a miséria que ensinou mais do que a felicidade; que foi a pobreza que ensinou mais do que a riqueza, que foram as bofetadas que trouxeram nosso fogo interior mais do que o louvor.
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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Vedanta - Nove aspectos fundamentais

O Vedanta
Nove aspectos fundamentais
por

Swami Vivekananda

Tradução de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(direitos reservados na forma da lei)
Sri Ramakrishna aos pés de Kali Devi


Amada Kali Devi!
Aos Teus pés me curvo de amor,
os tolos temem Tua forma porque não conseguem ver além da aparência;
Mas quem liga para a ignorância?
Tat Tvam Asi, aprendemos do Upanisad
Ele verteu de Tua boca silenciosa,
E assim como Tu, sou também no tempo.
Meu amor é somente compreendido por Ti
Na profundidade íntima a qual somente Tu o sabes
sou Teu menino que Te ama!

Swami Krsnapriyananda


Comentários sobre a visão do Vedanta de Swami Vivekananda

Em uma das palestras que Swami Vivekananda deu nos Estados Unidos ele disse: “Um sannyasi não pode pertencer a qualquer religião, por sua vida de pensamento independente, o qual se recolhe (afastando-se) de todas as religiões; esta é a vida de realização; não uma mera teoria ou crença, muito menos um dogma”. Até mesmo chamar Vivekananda de um ‘vedantista’ é colocar um rótulo nele injustamente.

O que então, pensarmos pelo Vedanta de Sankarachaya ou de Ramanuja, ou ainda de qualquer outro acharya? Nós intencionamos enfatizar, alguma coisa indicada pela palavra sânscrita darshana, a visão especial de uma pessoa em particular. Nós desejamos esquematizar e discutir aqui alguns dos nove pontos importantes os quais devem ser considerados características especiais do Vedanta por Vivekananda.

Antes de fazermos isso, deixe-nos primeiramente apontar o que parece ser erros frequentemente feitos no aproximar-se da vida e pensamento de Swami Vivekananda. Se nós podemos clarear o solo destes erros preconcebidos, nossos passos dentro da região de Vivekananda nos serão mais acertados.

Vejamos, então, alguns dos tópicos:

1-  que Vivekananda algumas vezes foi infiel ao que Sri Ramakrishna ensinou: sua mensagem parecer ser totalmente diferente.

Réplica: em primeiro lugar, o mestre jamais ensinou a Narendra que ele teria que ser um ‘clone’ de si. Ramakrishna demostrava com frequência respeito à amplitude e nível das mentes de seus discípulos. Em segundo, deve ser lembrado que eles tinham ouvintes muito diferentes. Ramakrishna falou para ocidentais instruídos, mas ainda com muitos indianos por detrás, residentes de Calcutá, enquanto Vivekananda endereçou-se ao público americano e europeu, produtos do renascimento e da ciência, bem como da filosofia e teologia Ocidental. Em Vedanta, a mensagem é dirigida pela natureza dos receptores.


2- que Vivekananda pegou seu humanismo, socialismo, métodos de organização, etc., da sua experiência no Ocidente.

Réplica: ao ler sua vida em detalhes alguém logo descobre que ele havia estudado, e pensando, sobre as ideias de Hamilton, Herbert Spencer, Tyndall, T. H. Huxley, e outros, e como ele os costumava utilizar, antes dele retirar-se para o Ocidente. Ele fora, mesmo nos seus dias de escola, familiar com filósofos como Hume e Hegel, e um ávido leitor de John Stuart Mill.

3- Que ele fora ‘apenas’ o mensageiro do Mestre, não um poder espiritual em si mesmo
Réplica: coisa alguma pode ser favorecida deste fato. Sri Ramakrishna deu a ele o poder acumulado pelo seu próprio sadhana, em um dia decisivo em Dakshineswar, relembrado mais tarde: “Agora me tornei um mero faquir”. Vivekananda também, convidado por um dos seus irmãos-discípulos, declarou inequivocadamente: “Enquanto eu estiver na Terra, Sri Ramakrishna estará atuando através de mim, não há dúvidas”.
 
Vejamos agora o que deveremos chamar de os mais significantes e distintivos ensinamentos de Vivekananda.

Ele costumava sublinhar nove títulos:

1. Que unicamente a Verdade é Brahman
Isso difere um pouco de Sankara: “Apenas o Brahman é real; o mundo é falso”. Swami Vivekananda dizia que o nome mais proeminente que o homem deu a Deus era Verdade. “Minha missão”, ele disse numa entrevista em Londres, “é mostrar que religião está em tudo e é tudo”. Ele nos disse que o drama, a música e a arte, por si mesmos, é religião; que qualquer canção, de amor que seja, conduzirá à liberação de alguém, uma vez que “alma é canção”.

Swami Vivekananda
O mais surpreendente, ele diz: “Num certo sentido eu sou materialista, porque eu creio que há apenas o Uno. Isso é o que o materialista quer que você creia; apenas que ele o chama de matéria e eu chamo de Deus, Brahman”. Ele conhecia por experiência própria quando, após o toque do seu Mestre, ele foi às ruas e viu que tudo diante dele era Deus. Tanto por natureza, como por alma. “há apenas um único indivíduo”, ele diz, “e cada um de nós é esse”. Atma é Brahman.

2. A realização final é a identidade com Brahman
Aqui ele nos mostra a ortodoxia do Advaita. Nenhum acomodamento pode ser aceito. “Não pare até a meta ser alcançada!”, ele encorajava. Qual é a meta? Que a identidade pura, alcançada apenas pelo destemor - a qual é o porquê dele tanto falar de destemor, “Que Deus, pelo qual você tem procurado por todo o universo, é o tempo todo você mesmo, não em um sentido pessoal, mas no impessoal”. E quando os outros replicavam a Ramakrishna que isso soava como egoísmo, respondia, “Naren pode dizer isso”. “O eterno, o infinito, o onipresente, o onisciente é um princípio, não uma pessoa. Você, eu e todos, somos corporificações; que o princípio é mais do que a corporificação numa pessoa;  a importância que ele tem, e tudo no final será a perfeita corporificação deste, e assim tudo será um, como agora eles são essencialmente...”. Ele nos dizia que nascemos monistas; nós não podemos aliviar disto, porque nós sempre percebemos o Uno.

3. Todos os caminhos estão fundamentados no Advaita e completos nele
Isso é o que nos impede de sermos fanáticos: que o homem não vai do erro à verdade, mas da verdade inferior à verdade superior. Quando Swamiji falava sobre Sri Krishna e o Gita, ele advertia: “Vocês devem adorar o Ser em Krishna, não Krishna como Krishna”. Ele mostrava que a natureza todo-incluída do Advaita quando dizia que o Vedanta aceita o dualismo e todos os sistemas que precedem o Advaita. Este é o solvente universal dentro do qual todas as filosofias devem fundir-se no final. Isso não é um ‘incluivismo’ nem um triunfalismo como algumas vezes é alegado. Apenas veja: “Sem o Vedanta, toda a religião é superstição (incluindo o ‘hinduísmo’); com ele, tudo se torna religião”.


4. Religião deve ser apresentada racionalmente
Foi apenas isso que Swami Vivekananda disse nas suas falas no Parlamento das Religiões em Chicago, em 1893. Isso cativou os ouvintes, os quais estavam já cansados de longos discursos emocionais, de preladores sectários. Por todos os quadrantes, o Vedanta tem sempre prescrevido, sharavanam, manamam, nididhyasanam, ouvir a verdade, triturá-la, e meditar sobre ela; aqui estava Vivekananda não apenas nos falando da sua própria fé, mas sobre todas as fés. Havia antes alguém feito isso de algum modo? “Se a religião de alguém é verdadeira”, ele apontava, “então todas as outras devem ser verdadeiras”. “O que aconteceu uma vez na história deverá acontecer novamente...”. Essa fora uma atitude científica. Ele dizia que o estudo da religião pode e deve ser aspirado nas exatas mesmas bases da busca de qualquer outra ciência. “Cada religião invoca necessidade de ser julgada pelo ponto de vista da razão”, e quando as pessoas contestavam dizendo que a “razão humana era fraca”, ele dizia para elas, “um corpo de sacerdotes deve mesmo ser fraco”. Ele ousava dizer para seus discípulos no principal monastério na Índia, “Apenas aquelas partes dos Vedas as quais concordam com a razão são aceitas como autoridade”, e também os prevenia, com relação ao Guru, “Adorem a seu Guru como Deus, mas não os obedeçam cegamente; amem-no com toda a sua vontade, mas pensem por vocês mesmos”.  

5. Toda a verdade deve tornar-se disponível para todas as pessoas
“O que eu desejo propagar”, disse Vivekananta numa palestra, “o ideal de uma religião universal... é uma religião que seja equanimemente aceitável por todas as mentes; ela deve ser equanimemente filosófica; equanimemente emocional; equanimemente mística e equanimemente conduzir à ação... e este será o ideal do aproximar íntimo de uma religião universal”. Particularmente, murmurava isso dentro dos ouvidos dos seus seguidores indianos. “A mais poderosa verdade confinada dentro de nossos Upanishads, em nossos Puranas, deve ser retirada de nossos livros; retirada de nossos monastérios, das florestas, da propriedade de corpos selecionados de pessoas e espalhada e transmitida sobre toda a Terra, até que esta verdade seja como o fogo, ao redor de todo o país”. Ele disse, “O Advaita, não deve mais ser secreto... ele deve baixar-se a vida diária das pessoas. Ele deve penetrar no palácio, saindo da caverna até a casa do lavrador, ao mendigo... em todos os lugares. O oprimido, o sem casta e as mulheres não mais devem ter medo. Deixe-se uma nova Índia surgir, do homem que lavra à terra; a cabana do pescador, ao sapateiro, ao varredor de ruas...”. Em Londres, Vivekananda fez esta predição: “O poder da religião, alargado e purificado, está penetrando em cada parte da vida humana... ele viverá em cada movimento nosso; penetrará em cada poro de nossa sociedade, e será infinitamente mais um poder para o bem que tenha sido alguma vez antes”.

6. Cada um deverá incorporar todas as fases da verdade
Com isso Swami não quis dizer que não há mais necessidade de especialistas; ele intencionava a não-exclusividade. O que a atual era precisa é de pessoas maduras “Para Deus!”; ele costumava dizer que todos os elementos da filosofia, misticismo, emoções e ação foram plena e equanimemente apresentados! Este é o ideal de pessoa perfeita. “Cada um de lado só.... é limitado, e este mundo está quase lotado destas pessoas de ‘um só lado’; com o conhecimento de apenas um caminho no qual eles se movem; qualquer coisa mais é perigosa e horrível para elas. Tornar-se equilibrado e harmonioso em todas as direções é a meta ideal de religião”. Em ocasiões extraordinárias ele apontava seu Mestre como um exemplo disso, ex.: “Isso foi dado para mim”, ele disse em Madrasis, “para viver ardentemente como um homem dualista; como um ardente Advaita, como um ardente Bhakta. Como um Jñani, Swamiji afortunadamente providenciou seu próprio bom exemplo: outro semelhante profeta equilibrado é difícil de encontrarmos. Ele foi um mestre em declarar perfeitamente as visões dos outros. Ele foi um músico, e no Ocidente teve lições de pintura na língua francesa.  “Nós somos de um novo tipo”, ele dizia aos seus ouvintes; “algumas vezes vestidos como um cavalheiro, nós estamos engajados em palestras; em outras vezes, jogados de lado.. cobertos de cinzas, nós estamos mergulhados em meditação; em austeridades nas montanhas e florestas”. Esta mesma ideia ele aplicou ao modo de seu trabalho: “Eu não nasci”, Swamiji assinalava, “para fundar mais uma seita, em um mundo fervilhante delas”.

7. Todos os caminhos são feitos ativos no serviço do homem com Deus
Suponha-se que nós queremos fazer trabalho caridoso; no caso, o que Swami Vivekananda nos diz, é: “Jamais se aproxime de qualquer coisa exceto como Deus. Esse é o nosso privilégio de nos ser permitido ser caridosos, por apenas assim podermos crescer. Os pobres sofrem para que talvez os possamos ajudar; deixe-se o doador ajoelhar-se e dar graças; deixe-se o receptor erguer-se e permitir. Sinta que o recebedor é alguém mais elevado. Você serve o outro porque você é mais inferior do que ele, não porque ele está embaixo e você está no alto”. A relação de tudo isso para sobrepor ao ego é óbvia. “Filosofia, Yoga e penitências ... todos aqueles se constituem na religião de alguém ou de um país; fazer o bem para os outros é a única religião universal”. Swami Vivekananda costumava dizer para seus discípulos, “Conheçam isso com certeza: aquele quem trabalhará será a coroa em minha cabeça. O que é a Índia, a Inglaterra ou a América para nós? Nós somos os servos de Deus, que pelo ignorante é chamado de HOMEM”.


Agora, se esta atividade de servir é expressa através de todos os caminhos, então nós novamente somos relembrados de nosso primeiro ponto: o drama, a música e a arte são por si mesmos religião. O que Vivekananda pregou ele fez. Numa palestra para ouvintes americanos em São Francisco, intitulada, “É o Vedanta uma Futura Religião”, ele confidenciou: “Vocês possuem um Deus pessoal. Neste instante eu os estou adorando (em falar). Esta é a maior das orações”.

 8. Que o homem é o fazedor de sua religião
O que ele quis dizer ‘por um homem’? Um ser humano, sem dúvida! “Grandes homens”, dizia Swamiji, “são aqueles quem constroem pontes para os outros, com  o sangue do próprio coração”. Que a austeridade desta era não é mais penitências em florestas e meditações, mas a construção de caráter através do karma Yoga; isso é o necessário hoje. 

Que a Índia em particular agora procura ter ‘músculos de ferro e nervos de aço’, aos quais nada poderá resistir; os quais podem penetrar os mistérios do universo, e realizar seus propósitos em qualquer forma, mesmo que signifique descer abaixo do oceano e encontrar-se com a morte face a face. Citando ou parafraseando algum verso de poesia, ele disse: “Nós deveremos esmagar as estrelas ao átomo, e atordoar o universo. Voce não sabe o quem nós somos? Nós somos os servos de Sri Ramakrishna!”. Algumas vezes pode alguém sentir que Deus em Swamiji era a um Homem; “Homem leitura”, ele dizia, “ele é um poema vivo”; isso não é humanismo. Isso tem uma definição mais ampla.

9. Adorar o terrível
Este, de certo modo, é o mais “pessoal” destas ênfases singulares na mensagem de Vivekananda. Ele costumava dizer, quando falava de Kali Devi, que Ela, quem primeiramente ele não pode aceitar, tinha se tornado o poder que agora o movia. “Dois ou três dias antes de Sri Ramakrishna abandonar o corpo, Ela, como ele costumava chamar Kali Devi, entrou em seu corpo. É Ela quem entrou em mim aqui e me faz atuar... eu sinto que este Poder está me dirigindo constantemente”. À parte de ser pessoal para ele, de que modo isso é uma prescrição para nós? “Cada um é responsável pelo mal em cada lugar do mundo”. Ninguém pode, realmente, “fechar a porta onde o mal reside”; todos tem que encarar, eventualmente, o Ser, em cujas mãos segura o bem e o mal, a doçura e terror. Ela, a sempre Mãe imparcial; foi o ideal escolhido por Ramakrishna, e que Swami Vivekananda obrigou-se a trazer o significado disso e transmitir isso ao mundo. “Adoração ao terrível” significa para ele e para nós, não temer mesmo a morte; a ver no mundo de hoje o tremendo jogo da energia, mostrando seu esplendor em cada caminho; entendendo-o como o Poder de Brahman em si mesmo. 

Fonte

segunda-feira, 25 de abril de 2011

É o Vedanta realmente uma religião?

É o Vedanta realmente uma religião?
Swami Yogeshananda

Tradução de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(direitos reservados na forma da lei) 

“Se a alma de todos é uma canção, alguém alcança a salvação apenas por ela”.
Swami Vivekananda


Kamadhenu, a vaca de todo o conhecimento
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Por que desta pergunta? Estou certo que vocês compreendem que para muitos, nos dias de hoje, a palavra ‘religião’ é desagradável. Eles a tem em associações desagradáveis, ou pior. Francamente, nos meus conhecimentos antigos eu o tinha como uma fuga da religião! Com certeza ele não é ‘uma’ religião; não uma entre tantas. Espero que todos saibam disso. A tentativa de “relativizar” isso, colocando-o no lugar de uma outra fé, está fadada ao fracasso. A questão é, são os critérios usuais, ou as marcas usuais de religião aplicadas ao nosso Vedanta? Ou deveremos nós chama-lo por outro nome? Swami Ashokananda chama-o de “Filosofia e Religião”; Swami Vivekananda, talvez vocês recordem, diz, “Religião sem filosofia corre para a superstição; filosofia sem religião torna-se ateísmo”.
Swami Yogeshananda

Uma boa maneira de aproximar-se do Vedanta é primeiramente definir os termos. O que é religião? Particularmente não tenho certeza; então não esperem algo definitivo de minha parte. Talvez você discuta isso. Portanto, talvez eu diga finalmente, “não há nada que não seja religião?” [derivado de espiritualidade]; a palavra ‘religião’ é composta de “re”, retornar, e “ligio”, ligar. É muito popular no cristianismo, e os pregadores fazem muito isso, mas não penso que isso possa ajudar muito; de fato, S. V., diz, “Religião é a eterna relação entre a alma eterna e Deus eterno” [analise-se, talvez haja somente um ‘eterno’].

Muitas vezes nós descobrimos do que uma coisa não é. Por exemplo, mesmo que incluirmos entre os fenômenos de religião, crença, ritos, organizações, prelados, escrituras, identificação com raça, língua ou práticas sociais, ou ainda políticas, apesar de eu pensar que você irá concordar, estes não são a essência da religião. Mesmo a ética não é a essência dela. [por que não?] deixem-me injetar uma observação importante na qual nós talvez retornemos. O pensamento indiano insistirá que religião não é produto da consciência limitada do estado desperto; sonho e sono profundo e a constatação destes (estados da consciência) também devem ser levados em conta. Isso irá garantir uma definição ‘mística’ da religião.

Talvez você queira dizer que ela é uma atitude, por exemplo, tomando a observação de Kahlil Gibran em “O Profeta”: “Sua vida diária é o seu templo e sua religião”. Eu posso sugerir também que religião é “encontrar o significado das coisas”. Isso é também amplo? Se vocês seguirem isso, na medida do curso vocês irão descobrir que todas as coisas possuem apenas um único significado! Em outras palavras, elas são integração, porque isso é o que significam.

Tendo isso, então, retomemos para algumas das definições sobre religião dadas por Swami Vivekananda:

- “Religião está sendo e se tornando – toda a alma sendo transformada dentro daquilo que ela crê”. Ela nos possui; então, o que há sobre ‘comunismo’? (Swami Vivekananda sobre filosofia sem religião).
- “Yoga (compreensivo) é um processo de religião”.
- “Religião é a verdadeira existência para sua própria natureza; o despertar do espirito dentro de nós, consequentemente acima da ação pura e heroica”
- “Ela é a realização do espirito como espirito (não material)”
- “Religião é a aceitação de todos os credos existentes, vendo neles o mesmo esforço direcionado para o mesmo destino”.
- “Ela é a ideia a qual surge do homem bruto e do homem para Deus” 

Deixe-nos agora fazermos alguma tentativa de definir o Vedanta.
Primeiro, ele não possui nada em comum com definições depreciativas de religião, por exemplo, o ópio para as pessoas como dizia Freud (e em Marx), ou em Averroes: “Religião é um meio de instruir e governar pessoas ignorantes”, e ainda, a citação elitista deste, Filosofia é a disciplina do eleito, quem é capaz de crer em si mesmo e governar os outros”.
Além disso, Vedanta não é uma teologia, porque ele não possui dogma; não haverá especulação. Se houvesse tal identificação com religião ele deveria produzir sacerdotes bem como swamis. 

Swami Vivekananda
O Vedanta é a procura por unidade e liberdade com resultados essencialmente garantidos. O seu axioma é que há apenas uma única entidade, e nada mais em suas sombras. Então você vê, com este ponto de visão sublinhado, a unidade encontra-se em tudo: se um homem é em essência divino, então psicologia= teologia; história = cosmologia; e uma vez que o universo em si mesmo é evolução, supostamente, da Deidade, cosmologia = filosofia; física, e metafísica são inseparáveis. A perfeição do ser humano com todas as suas artes e ciência não é basicamente diferente da perfeição que nós atribuímos a Deus.

Bem, você talvez diga, a ciência é também a procura pela unidade e liberdade. Então a ciência e o Vedanta diferem em outros meios que o campo de investigação? Sim, mesmo onde eles estudem o mesmo campo, eles diferem em suas interpretações. Ramana Maharshi deixou isso bem claro quando ele deu a máxima: “procurar a ciência do fazedor, não é a essência do fazer”. Espero que vocês conheçam o livro de Annie Dillars, ‘Pilgram at Tinker Creek’. Ela expende todo o seu tempo desvelando a ‘ciência do fazer’ – e todo o tempo ela nos diz como é o temporal e como pouco nos diz sobre o que está por detrás do cientista. O Vedanta não é nada se não ‘encontrarmos o significado’; descobrimento da natureza transcendental através da descoberta do transcendente no ser humano. A essência do Vedanta é transformação interior, ou yoga.  Como diz Vivekananda, “Doutrinas são métodos, não religião”. E voces lembram-se de que Sri Rama Krishna dizia: “O leite você pega apenas da teta da vaca”. O Vedanta, então, é procurar o úbere da vaca da Verdade. E isso, penso eu, está bem resumido por Vivekananda sobre religiao: “O eterno, infinito, onipreseente, onisciente é um princípio, não uma pessoa. Eu e você e todos são assim personificações deste princípio, e o maior deste principio infinito está personificado numa pessoa; o grande é uma pessoa, e todos, no final, irão ser a perfeita personificaçao e então todos serão unos, como são eles agora essencialmente. Isso é tudo que há de religiao”.

De fato, eu deveria dizer que talvez isso seja totalmente adequado e que nós somos incapazes de definir seja o Vedanta ou religião. O espírito da religião de algum modo não me importa muito; mas o espirito do Vedanta é uma atitude de perpétua surpresa e alegrias – estas são as verdadeiras características do Vedanta, e eu esperaria encontrá-las também na religião. Na realidade, Swami Vivekananda disse, “Religião é aprender a jogar conscientemente”!

Neste ponto eu gostaria de abrir para suas discussões. E terei um pouco mais para dizer com o encerrar da hora.

A respeito do nosso próprio movimento, Swami Vivekananda não introduziu templos, santuários e rituais, nem eles os proibiu. Portanto, penso que nós temos que concluir que enquanto o Vedanta transcende a religião, como usualmente esta é definida, ele não a rejeita, ou melhor, citando-o “Sem o Vedanta cada religião se torna superstição; com o Vedanta, tudo se torna religião”; “Minha missão na vida”, ele dizia”, “é mostrar o que religião está em tudo e em todos”. Hoje talvez religião fosse dita como ‘espiritualidade’. “O drama e a música são por si mesmos religião; qualquer canção, música de amor ou qualquer melodia, não importa; se a alma de todos é uma canção, alguém alcança a salvação apenas por ela. Filosofia e Yoga são penitências – a sala de adoração – suas oferendas – tudo isso constitui-se em religião de uma pessoa ou um país; fazer o bem aos outros é a única grande religião universal”.

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