segunda-feira, 25 de abril de 2011

É o Vedanta realmente uma religião?

É o Vedanta realmente uma religião?
Swami Yogeshananda

Tradução de Swami Krsnapriyananda Saraswati
(direitos reservados na forma da lei) 

“Se a alma de todos é uma canção, alguém alcança a salvação apenas por ela”.
Swami Vivekananda


Kamadhenu, a vaca de todo o conhecimento
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Por que desta pergunta? Estou certo que vocês compreendem que para muitos, nos dias de hoje, a palavra ‘religião’ é desagradável. Eles a tem em associações desagradáveis, ou pior. Francamente, nos meus conhecimentos antigos eu o tinha como uma fuga da religião! Com certeza ele não é ‘uma’ religião; não uma entre tantas. Espero que todos saibam disso. A tentativa de “relativizar” isso, colocando-o no lugar de uma outra fé, está fadada ao fracasso. A questão é, são os critérios usuais, ou as marcas usuais de religião aplicadas ao nosso Vedanta? Ou deveremos nós chama-lo por outro nome? Swami Ashokananda chama-o de “Filosofia e Religião”; Swami Vivekananda, talvez vocês recordem, diz, “Religião sem filosofia corre para a superstição; filosofia sem religião torna-se ateísmo”.
Swami Yogeshananda

Uma boa maneira de aproximar-se do Vedanta é primeiramente definir os termos. O que é religião? Particularmente não tenho certeza; então não esperem algo definitivo de minha parte. Talvez você discuta isso. Portanto, talvez eu diga finalmente, “não há nada que não seja religião?” [derivado de espiritualidade]; a palavra ‘religião’ é composta de “re”, retornar, e “ligio”, ligar. É muito popular no cristianismo, e os pregadores fazem muito isso, mas não penso que isso possa ajudar muito; de fato, S. V., diz, “Religião é a eterna relação entre a alma eterna e Deus eterno” [analise-se, talvez haja somente um ‘eterno’].

Muitas vezes nós descobrimos do que uma coisa não é. Por exemplo, mesmo que incluirmos entre os fenômenos de religião, crença, ritos, organizações, prelados, escrituras, identificação com raça, língua ou práticas sociais, ou ainda políticas, apesar de eu pensar que você irá concordar, estes não são a essência da religião. Mesmo a ética não é a essência dela. [por que não?] deixem-me injetar uma observação importante na qual nós talvez retornemos. O pensamento indiano insistirá que religião não é produto da consciência limitada do estado desperto; sonho e sono profundo e a constatação destes (estados da consciência) também devem ser levados em conta. Isso irá garantir uma definição ‘mística’ da religião.

Talvez você queira dizer que ela é uma atitude, por exemplo, tomando a observação de Kahlil Gibran em “O Profeta”: “Sua vida diária é o seu templo e sua religião”. Eu posso sugerir também que religião é “encontrar o significado das coisas”. Isso é também amplo? Se vocês seguirem isso, na medida do curso vocês irão descobrir que todas as coisas possuem apenas um único significado! Em outras palavras, elas são integração, porque isso é o que significam.

Tendo isso, então, retomemos para algumas das definições sobre religião dadas por Swami Vivekananda:

- “Religião está sendo e se tornando – toda a alma sendo transformada dentro daquilo que ela crê”. Ela nos possui; então, o que há sobre ‘comunismo’? (Swami Vivekananda sobre filosofia sem religião).
- “Yoga (compreensivo) é um processo de religião”.
- “Religião é a verdadeira existência para sua própria natureza; o despertar do espirito dentro de nós, consequentemente acima da ação pura e heroica”
- “Ela é a realização do espirito como espirito (não material)”
- “Religião é a aceitação de todos os credos existentes, vendo neles o mesmo esforço direcionado para o mesmo destino”.
- “Ela é a ideia a qual surge do homem bruto e do homem para Deus” 

Deixe-nos agora fazermos alguma tentativa de definir o Vedanta.
Primeiro, ele não possui nada em comum com definições depreciativas de religião, por exemplo, o ópio para as pessoas como dizia Freud (e em Marx), ou em Averroes: “Religião é um meio de instruir e governar pessoas ignorantes”, e ainda, a citação elitista deste, Filosofia é a disciplina do eleito, quem é capaz de crer em si mesmo e governar os outros”.
Além disso, Vedanta não é uma teologia, porque ele não possui dogma; não haverá especulação. Se houvesse tal identificação com religião ele deveria produzir sacerdotes bem como swamis. 

Swami Vivekananda
O Vedanta é a procura por unidade e liberdade com resultados essencialmente garantidos. O seu axioma é que há apenas uma única entidade, e nada mais em suas sombras. Então você vê, com este ponto de visão sublinhado, a unidade encontra-se em tudo: se um homem é em essência divino, então psicologia= teologia; história = cosmologia; e uma vez que o universo em si mesmo é evolução, supostamente, da Deidade, cosmologia = filosofia; física, e metafísica são inseparáveis. A perfeição do ser humano com todas as suas artes e ciência não é basicamente diferente da perfeição que nós atribuímos a Deus.

Bem, você talvez diga, a ciência é também a procura pela unidade e liberdade. Então a ciência e o Vedanta diferem em outros meios que o campo de investigação? Sim, mesmo onde eles estudem o mesmo campo, eles diferem em suas interpretações. Ramana Maharshi deixou isso bem claro quando ele deu a máxima: “procurar a ciência do fazedor, não é a essência do fazer”. Espero que vocês conheçam o livro de Annie Dillars, ‘Pilgram at Tinker Creek’. Ela expende todo o seu tempo desvelando a ‘ciência do fazer’ – e todo o tempo ela nos diz como é o temporal e como pouco nos diz sobre o que está por detrás do cientista. O Vedanta não é nada se não ‘encontrarmos o significado’; descobrimento da natureza transcendental através da descoberta do transcendente no ser humano. A essência do Vedanta é transformação interior, ou yoga.  Como diz Vivekananda, “Doutrinas são métodos, não religião”. E voces lembram-se de que Sri Rama Krishna dizia: “O leite você pega apenas da teta da vaca”. O Vedanta, então, é procurar o úbere da vaca da Verdade. E isso, penso eu, está bem resumido por Vivekananda sobre religiao: “O eterno, infinito, onipreseente, onisciente é um princípio, não uma pessoa. Eu e você e todos são assim personificações deste princípio, e o maior deste principio infinito está personificado numa pessoa; o grande é uma pessoa, e todos, no final, irão ser a perfeita personificaçao e então todos serão unos, como são eles agora essencialmente. Isso é tudo que há de religiao”.

De fato, eu deveria dizer que talvez isso seja totalmente adequado e que nós somos incapazes de definir seja o Vedanta ou religião. O espírito da religião de algum modo não me importa muito; mas o espirito do Vedanta é uma atitude de perpétua surpresa e alegrias – estas são as verdadeiras características do Vedanta, e eu esperaria encontrá-las também na religião. Na realidade, Swami Vivekananda disse, “Religião é aprender a jogar conscientemente”!

Neste ponto eu gostaria de abrir para suas discussões. E terei um pouco mais para dizer com o encerrar da hora.

A respeito do nosso próprio movimento, Swami Vivekananda não introduziu templos, santuários e rituais, nem eles os proibiu. Portanto, penso que nós temos que concluir que enquanto o Vedanta transcende a religião, como usualmente esta é definida, ele não a rejeita, ou melhor, citando-o “Sem o Vedanta cada religião se torna superstição; com o Vedanta, tudo se torna religião”; “Minha missão na vida”, ele dizia”, “é mostrar o que religião está em tudo e em todos”. Hoje talvez religião fosse dita como ‘espiritualidade’. “O drama e a música são por si mesmos religião; qualquer canção, música de amor ou qualquer melodia, não importa; se a alma de todos é uma canção, alguém alcança a salvação apenas por ela. Filosofia e Yoga são penitências – a sala de adoração – suas oferendas – tudo isso constitui-se em religião de uma pessoa ou um país; fazer o bem aos outros é a única grande religião universal”.

link desta postagem - Vedanta Center Atlanta

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